A arte e o espaço público

18 05 2010

Cenários plurais norteiam o caminho para o entendimento do que é a cidade de São Paulo. Assim como, as manifestações artísticas e seus espaços de fluxos de sentido colaboram para a compreensão da catarse multicultural que forma e caracteriza esta metrópole que nunca para.

Entre seus dilemas e muitos desafios, um desvio sutil opera-se para observar a arte manifestada e socializada no seu espaço público que reflete uma potencialidade de orientações e horizontes produtores de significados. 

Integrar a arte aos espaços da cidade revitaliza e promove (re)descobertas de cenários da vida cotidiana dos cidadãos. Pois, arte é expressão, é percepção, é conhecimento e marcas de experiências.  Apesar dos avanços, a força da arte no espaço público ainda é muito pouca explorada.

É fundamental que esta forma de movimento de sentido seja vista como uma ferramenta de a transformação social. A arte pode modificar os espaços sociais pelas suas nuances de arte-educação, arte pública.

Pelas trajetórias da arte é possível convidar os cidadãos que integram o espaço público a produzir leituras críticas e desenvolver habilidades para a construção e revisão de conhecimentos e posicionamentos sociais, tendo em vista as percepções que uma manifestação artística compartilhada pode estimular.

Fonte: Imagem da Internet

É importante ofertar às pessoas a possibilidade de estabelecerem diálogos diretos com as obras artísticas na cidade, tornando o espaço público um suporte para a projeção da cultura pelas artes e suas mensagens.  Pois, é sabido que a arte possibilita comunicação entre todas as esferas sociais. Inclusive movimenta os sentidos sem o estabelecimento de controles.

Pensar a relação complexa entre arte e espaço público como parâmetro para a edificação de políticas públicas, que venham a considerar a cultura como eixo especial para estimular e agregar mais conhecimento ao repertório cultural do coletivo  é um excelente percurso de orientação para se ampliar os processos de integração e inclusão social nas grandes cidades como São Paulo.

As ações de intervenções da arte em espaços públicos podem pelo seu apelo de compartilhar significados alterar as matrizes de informação dos cidadãos, ou seja, a arte nas suas estruturas carrega e acumula conhecimento, história, técnica, tempo e espaço… E, seu significado nunca é único!

A arte sempre possibilita outras leituras de suas manifestações. Principalmente quando ela se encontra em espaços públicos, onde a cidade e seus residentes interferem e contextualizam os sentidos, permitindo outras narrativas.  Por excelência, a arte nos espaços abertos da cidade faz desses seus  campos de comunicação, na busca de tornar as manifestações artísticas mais participativas e ativistas considerando um campo de sentido expandido.

Dessa forma, é sim viável pensar a arte como elemento para suportar as políticas públicas com vistas à (re)integração de cidadãos que estejam à margem dos significados construídos nos espaços públicos. Desempenhando assim um papel de resgate de pessoas que se encontram em situação de risco.

A força e os efeitos da arte devem ser reconhecidos e ampliados para agregar “novas/outras” estruturas no combate ao pensamento limitado que vincula arte apenas à questão  estética. A arte vai além, ela pode transformar uma sociedade.





HUMOR E PRECONCEITO – OBSERVAÇÕES

5 05 2010

 

É pela sutileza das boas sensações geradas pelo discurso do humor que, com muita força, se manifesta o preconceito social produtor da discriminação e outros elementos negativos adjacentes.

A psicologia social com base cognitiva nos orienta que o preconceito deve ser entendido como “atitudes e idéias rígidas com conteúdo racional e emocional negativo e injusto, que deriva dos estereótipos. Dessa forma, o preconceito pode ser compreendido como uma opinião prévia, que se problematiza por um julgamento antecipado, sem base de juízos de valor, a respeito de um indivíduo/grupo de forma discriminatória” (LEITE, 2008, p. 5).

Logo, os preconceitos são tendências psicológicas que se produzem na manifestação de um comportamento discriminatório, numa ação moldada por conteúdos afetivos (geralmente, negativos).

Imagem: Fonte internet

Voltando a questão do humor, no contexto das diversas produções midiáticas, vários artistas apelam e se apropriam, irresponsavelmente, das identidades de determinados nichos sociais para darem vida às suas personagens. Entreter é o objetivo (?).

No entanto, as expressões dessas representações humorísticas acabam, muitas vezes, por oferecer atualizadas “armas discursivas” para o reforço e ampliação dos das manifestações de preconceitos entre os grupos sociais. Os alvos ou as vítimas desses roteiros sempre são as minorias sociais: os negros, os gays, obesos entre outros.

Dificilmente esses indivíduos participam desses cenários construídos pela lógica do humor de forma digna e respeitosa. Dessa forma, cabe perguntar: Será que não é possível fazer humor sem condenar o outro? O reforço ao sacrifício social (hostilizações) desses indivíduos valida-se pelos minutos de diversão e entretenimento?

O humor nunca foi e nunca será ingênuo, pois é pela facilidade de naturalização do seu poderoso discurso, pautado pelo efeito do riso, que ele continuará alimentando e semeando a cada dia as orientações produtoras de olhares vazios e preconceituosos.

É preciso refletir mais sobre o assunto…





SILÊNCIO

12 04 2010

 

É pelo silêncio e seus percursos que se estruturam os posicionamentos sociais frente aos cenários da vida. O silêncio estimula a manifestação de nossos pensamentos em forma de comunicação/ expressão. Ou seja, o silêncio não deve ser entendido como antônimo da comunicação, mas sim como caminho para sua manifestação. Considerando que o silêncio também exprime sentidos.

Então o silêncio não pode ser visto apenas como elemento negativo, apesar de também contemplar este viés, por exemplo, no silenciamento imposto pela censura do qual o Brasil já foi vítima.

Na margem do silêncio social é onde se encontram as diversas famílias do estado do Rio de Janeiro, que sofreram/sofrem com os impactos advindos com a chuva da última semana e ampliados pelo descaso das autoridades públicas.

Imagem Fonte: Internet - Morro do Bumba, Niterói/RJ.

As imagens produzidas por essa tragédia comoveram a todos, provocando extensões de sentimentos de condolências, perplexidade e revolta. Afinal de contas o ocorrido poderia ter sido evitado (ou minimizado) se tivéssemos autoridades que não se ocultassem diante de suas responsabilidades de promover a dignidade humana e disponibilizar estruturas que possibilitem maior qualidade de vida para os cidadãos.

É tudo muito triste.

Hoje, ouvi o seguinte comentário a respeito… “ainda bem que este ano é de eleições, pois todas as vítimas terão assistência, porque há outros interesses em voga”. Infelizmente, sou obrigado a concordar, pois o que se pode esperar de autoridades que permitem, têm ciência e instituem (cobrando IPTU) que espaços sejam construídos e habitados em cima de um lixão (em referência ao acontecido no morro do Bumba, em Niterói/RJ)? 

Leiam esta matéria. É um absurdo um ser dá uma declaração destas. Será que ele acha que no Brasil só tem idiotas?

“Prefeito de Niterói diz que tragédia no Morro do Bumba foi desastre natural e que não é culpado pela chuva” – Extra Online, 12/04/2010.

É no silêncio que tento compreender e resgatar a esperança para dias melhores. Mas, sinceramente não sei se isso é possível. Está difícil. Os flashes daquelas imagens: pessoas misturadas ao lixo sendo retiradas mortas (famílias inteiras) PROVOCAM e DILUEM MEU SILÊNCIO.

A solidariedade é o conforto temporário. O mundo segue…





LURKERS ou POSTERS. O que você é na web?

31 03 2010

 

Atualmente vivemos em uma sociedade em rede que (re)configura e integra as esferas das relações humanas, econômicas, tecnológicas, culturais, políticas e de sociabilidade, conforme pontua o sociólogo Manuel Castells. Tal transformação é suportada e permeada pela força das novas tecnologias de comunicação e informação da web 2.0.

A web 2.0 pode ser entendida como um segundo período da internet ou, conforme apresenta o pesquisador Alex Primo, como a segunda geração de serviços online, que se caracteriza por potencializar as formas de publicação, compartilhamento e organização de informações, além de ampliar os espaços para a interação entre os participantes do processo.

Imagem Fonte: Internet

As manifestações na internet geralmente acontecem e ganham força nas redes sociais/ pessoais construídas pelos indivíduos nas plataformas de comunicação da web 2.0 (Orkut, Face book. Twitter, etc.). Esses espaços são utilizados para articular informações, conhecimentos e debates de vários temas e níveis.

Nesses cenários virtuais várias denominações são indicadas para caracterizar seus membros, no entanto, duas se destacam por serem as mais difundidas: os lurkers e os posters.  

Os lurkers são os simples leitores. Eles apenas observam os debates das redes sociais sem se expressar a respeito. Por isso, a presença desses indivíduos muitas vezes passa despercebida. São os visitantes/membros passivos das comunidades e redes sociais.

Já os posters são os membros ativos e participantes das redes sociais. Eles interagem com os debates e produções de sentido colaborando com criação de tópicos, questionamentos etc..

A maioria dos membros que integra a web 2.0 é considerada lurkers, entretanto, apesar da não interação direta desses indivíduos nas produções da internet, não se pode deixar de considerar a importância de suas “invisíveis” leituras. Pois, é sabido que pelas orientações das Ciências da Linguagem que o silêncio produz sentido, logo, é nesse percurso que esses membros podem colaborar e produzir efeitos nas margens e extensões sociais da web 2.0.